Eu mudei minha opinião e fui pra rua

domingo, 23 de junho de 2013

Primeiramente quero dizer que em meio a tudo o que anda acontecendo, eu simplesmente não consegui pensar em outra coisa se não no futuro da nossa nação, e com isso, não achei nem um pouco necessário continuar com os posts do blog, porque desejei que todos vocês, assim como eu, estivessem lendo coisas mais importantes.
Nesses últimos dias eu tenho lido dezenas de textos e visto centenas de vídeos e matérias sobre as manifestações que estão ocorrendo em nosso país. Demorei muito, mas resolvi me pronunciar, pois em meio a tudo isso, não dá para ficar calado. Vou escrever um pouquinho de como foram para mim esses últimos dias, de como minha opinião e sentimento mudaram e, quem quiser debater sobre o assunto, estou super aberta a ouvir outras opiniões.

Há pouco mais de uma semana, no primeiro dia de protestos, confesso que me irritei muito e estava achando ridículo, afinal, faziam 2 anos que o governo de São Paulo não aumentava o preço das passagens, e esse aumento foi de apenas 6%, então o que passava pela minha cabeça era "vale mesmo a pena ir pras ruas por isso? E, principalmente, destruir patrimônio público por isso?" odeio vandalismo, para mim é um dos piores atos do ser humano, portanto, não via sentindo nas pessoas que estavam na rua protestando por algo destruindo os mesmos. Queimar ônibus, demolir pontos de ônibus e estações de metrô? É por isso que o governo tem que aumentar as passagens, pra pagar pelos atos de demolição dos vândalos.

E foi assim que eu pensei por mais uns 2 ou 3 dias, e não foi a Globo que me "manipulou" e me fez pensar assim. Pelo contrário, nesses dias a Globo dava tanto foco aos manifestos que eles não duravam nem 30s no noticiário. O que me fazia pensar assim eram os milhares de tweets e compartilhamentos falando que aqui no Brasil as coisas só funcionam assim, que temos que quebrar tudo e fazer bagunça, se não não nos escutam. E bom, uma coisa eu ainda tenho a mesma opinião: quem tem esse tipo de pensamento não merece um Brasil melhor.

Durante esses 2 ou 3 dias que continuei com esse pensamento, conversei com várias pessoas (e que orgulho ver tanta gente disposta a falar sobre assuntos que antes eram considerados "chatos"), vi vários outros pontos de vista e fui mudando um pouco o meu próprio. E não, eu não sou uma pessoa manipulável, eu sou uma pessoa que quando vê que está errada, admite o erro e vai atrás das coisas certas. Aos poucos foram aparecendo muitos outros motivos, todo mundo indo às ruas pelo seu próprio, seja ele ser contra o PEC 37, mais investimento em saúde, educação e segurança, contra a "Cura Gay", contra os gastos exorbitantes nos estádios, contra a corrupção e outros milhares.

De repente então meu sentimento começou a ser de orgulho. Orgulho por uma geração, que antes parecia acomodada, deixando tudo pra lá, ter acordado e ido atrás dos seus direitos. Orgulho por saber que todos aqueles que só viviam falando "moro em um país de merda" e outras coisas bem piores, finalmente resolveram fazer algo para mudar isso. Senti orgulho, mas ainda não via um motivo para eu ir pra rua também.

Até que no final de semana soube que na minha cidade, e em várias outras cidades pequenas, teria manifesto. Aí já me veio o pensamento de "pra que isso? Não tem nada a ver", já que esses protestos se diziam ser em solidariedade ao pessoal de São Paulo. Isso pra mim não é motivo. Pra mim, se você tá indo pra rua, tem que ser por ter vontade de mudar o país. Um ou dois dias depois saiu um vídeo falando as principais causas defendidas no manifesto que ocorreria aqui, aí eu entendi, achei muito legal. Mas meu medo e minha comodidade ainda eram maior, então na terça (18), fiquei em casa.
Fiquei em casa, mas assim que ouvi um barulho na rua, fui direto para a janela. Fui e senti vontade de chorar. Chorar de orgulho, de emoção, de ver toda aquela galera ali embaixo entrando pra história, mudando o nosso país. Quis chorar mais ainda quando ouvi mais de 4000 pessoas gritando com toda sua força "eu sou brasileiro com muito orgulho e muito amor". Porque eu nunca acreditei que viveria para ver o dia em que brasileiros gritariam isso sem ser depois de ter ganhado a copa do mundo ou um jogo importante (eu sempre fui muito patriota, daquelas que ficam revoltadas quando vêem alguém falando que quer morar fora "porque aqui não tem nada").

Enquanto assistia a manifestação, ali da janela, liguei para o meu irmão para contar o que tava acontecendo aqui. Ele me disse que tinha ido ao manifesto no dia anterior em Brasília e que tinha sido o maior ato de patriotismo que ele já viveu, que ele subiu no congresso e ficou emocionado, que era pra eu descer pra rua naquele mesmo momento e participar de tudo isso. Não sei se foi a emoção da hora, ou a vontade de poder contar para os meus filhos que eu fiz parte de tudo isso, mas nesse dia eu resolvi que no próximo manifesto eu estaria lá. 

Então nos dias que se passaram eu comecei a acompanhar bem mais tudo isso, conversar muito mais e debater muito mais sobre o assunto. Na quinta (20), apesar das cenas lindas de mais de 1 milhão de pessoas na rua em todo o Brasil, fiquei extremamente revoltada com a quantidade de vandalismo nos protestos. Galera, acorda, a gente tá querendo um Brasil melhor, não é quebrando tudo que vamos conseguir isso! Mas isso não me desmotivou, pelo contrário, me fez ter mais vontade de ir e provar que dá sim para mudar a história sem violência, sem vandalismo. Não to falando que os protestos tem que ser completamente pacíficos, não mesmo, a gente tem que aparecer, tem que causar. Mas não destruindo as coisas. Temos que fazer ser ouvidos pelas nossas vozes e nossa vontade.

E ai na sexta (21) comecei a ter um pequeno sentimento de medo me assombrando. Li alguns textos falando sobre possíveis golpes (para quem tiver paciência, leia este) e também comecei a acreditar nessa teoria conspirativa de que o próprio governo esteja mandando "infiltrados" para as manifestações e fazendo com que a polícia não esteja mais tão alerta e violenta como estiveram nos primeiros dias. Não entendo nada de política, não sei o que cada partido defende (mas claro, quando fui votar pela primeira vez, ano passado, li bem as propostas dos meus candidatos), mas acredito que isso não é uma guerra partidária, acredito que em todo partido e em todo e qualquer lugar no mundo, sempre vai existir pessoas "ruins", e é contra elas que temos que ir. Mesmo com esse medo, ainda quis ir para a rua, pois sabia que eu tava lá por algum ideal.
Então as 17:30 eu saí de casa, mesmo embaixo de uma chuva enorme e um frio de 15 graus. Fiz meu cartaz e fui me reunir a todos os outros que tiveram coragem e vontade de sair de casa naquele tempo. A cada rua que a gente passava, todos iam para a janela nos dar força, bater palmas e sinalizar que estavam conosco, e aquilo me fez ter vontade de chorar de novo, por saber que eu tava fazendo a coisa certa, que todo mundo concordava que era a hora do basta. Caminhamos durante uns 40 minutos até chegar a BR 101, onde ficamos por pouco mais de 1h (um grupo ficou mais tempo por lá). E foi lindo. Foi lindo ver os caminhões e carros que passavam pelo outro lado da pista buzinando e incentivando a manifestação. Depois voltamos para o centro e cantávamos "quem concorda pisca a luz" e todas as pessoas que nos acompanhavam da sacada dos seus apartamentos piscaram a luz. Voltei pra casa com sensação de dever cumprido (pelo menos por aquele dia).

Acho que além de estar mudando a história, o mais importante de tudo isso é o quanto eu estou aprendendo. Nesses dias todos eu aprendi coisas que acredito que todos deveriam ter aprendido na escola. Aprendi que o Brasil tem uma constituição com todos os nossos direitos e deveres e que ela tá aqui, disponível para todo mundo ler. Aprendi que todo cidadão tem direito de ir até o seu prefeito ou vereador e apresentar propostas para eles, que todo cidadão tem direito de assistir e participar de assembléias e votações (coisas essas, que se todo mundo soubesse e fizesse, não seria necessário estar na rua agora reivindicando pelo que poderia ter sido evitado). Aprendi também que o povo brasileiro tem sim orgulho do seu país, mas quer ele melhor, quer ele "arrumado", para nós mesmos e as gerações futuras.

A mudança não vai vir da noite pro dia, e sim aos poucos. E já tá vindo. Agora não podemos nos calar, não podemos voltar a nos acomodar, e não podemos esquecer o nosso patriotismo, pois temos um país lindo, com tudo para ser ótimo, só precisamos saber como fazer isso. Precisamos ter uma direção e um foco e sair às ruas para chegar até ela. E, na minha opinião, o que traria a "cura" do nosso país é a educação

Agora, relendo todo esse texto, acredito que ele tenha ficado meio confuso. Mas o que posso fazer, se estamos vivendo em uma confusão? Se a cada segundo que passa, com o bombardeio de informações que temos, nossos sentimentos oscilam? Ainda tem muito mais coisa dentro de mim para ser falada, mas por ora, termino esse texto por aqui. E deixo a minha pergunta: E você, já foi pra rua? Já foi mudar a história da sua pátria? Se você tem seu ideal, tá esperando o que? Essa é a hora, esse é o momento de ir lá gritar. 

Para quem quem participar dos próximos manifestos, mas tem medo, aqui tem um "guia para os manifestantes", com tudo que você precisa saber e levar para ficar seguro.
E aqui alguns links de vídeos e textos que li e gostei muito:

3 comentários:

  1. Legal Yaah! Também mudei de opinião!
    Beijos

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  2. Olha, acho que esse post é o que eu vi mais você... De todos! Incrível como a cada palavra eu ouvia sua voz e no final da frase aquela semitonação que você faz com a voz fina.

    Eu fico feliz com sua reação, como isso mudou a cabeça das pessoas... Eu que sempre apoiei a causa, mas nunca fui muito patriota. Você patriota, que não reconhecia muito a causa. Mudamos a cabeça e podemos mudar o Brasil!

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